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A RESSURREIÇÃO DOS
MORTOS
- 01/12/2002 -
A ressurreição dos
mortos, base da doutrina cristã, é uma crença herdada de judeus que, por sua vez, a
incorporaram das crenças babilônicas e persas. Não é encontrada no livro
da lei mosaica, não está entre os patriarcas nem entre os profetas, com
exceção de Daniel, cujo livro, ao que tudo nele indica, foi criado muito
tempo depois do cativeiro babilônico, e algum esboço em Isaías. Daniel é
o único livro que tem uma linguagem bem parecida com a cristã. Isso nos
dá a maior certeza de que a ressurreição é um produto da mente humana e
não do deus dos hebreus, um ser onisciente que teria guiado um povo
desde o começo do mundo.
Embora o Velho Testamento apresente casos de pessoas ressuscitadas, a
lei mosaica não apresentou nenhuma promessa de recompensa em outra vida
após a morte. A lei apresentou um deus severo, com promessas e ameaças
nesta vida: “porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que
visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração
daqueles que me odeiam” (Deuteronômio, 5: 9). E não prometia nada
mais além do que se pudesse conceder aqui na terra: “Honra a teu pai
e a tua mãe, como o senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem
os teus dias, e para que te vá bem na terra que o Senhor teu Deus te dá”
(Deuteronômio, 5: 15).
Em relação ao pós-morte, encontramos algumas opiniões:
Jó diz: “Oxalá me encobrisses na sepultura e me ocultasse até que a
tua ira se fosse, e me pusesses um prazo e depois te lembrasse de mim!
Morrendo o homem, porventura tornará a viver?” (Jó, l3: 13 e 14). Era
assim que ele cria: “...o homem se deita, e não se levanta: enquanto
existirem os céus não acordará, nem será despertado do seu sono” (Jó,
13: 12).
Eis a resposta ainda mais clara: “Tal como a nuvem se desfaz e
some, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais
tornará à sua casa, nem o seu lugar o conhecerá mais” (Jó, 7: 9, 10)
Salomão, se tiver sido mesmo o autor do Eclesiastas, não cria na
existência de consciência após a morte; pois o livro atribuído a ele
diz: “Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos não sabem coisa
nenhuma, nem tampouco têm eles daí em diante recompensa; porque a sua
memória ficou entregue ao esquecimento. Tanto o seu amor como o seu ódio
e a sua inveja já pereceram; nem têm eles daí em diante parte para
sempre em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”(Eclesiastes,
9:5, 6).
A NOVA JERUSALÉM prometida pelo profeta Isaías ainda não continha
nenhuma perspectiva de ressurreição dos mortos. Era muito diferente
daquela apresentada nas visões de João no Apocalipse:
“Pois eis que eu crio
novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, nem
mais se recordarão: Mas alegrai-vos e regozijai-vos perpetuamente no que
eu crio; porque crio para Jerusalém motivo de exultação e para o seu
povo motivo de gozo. E exultarei em Jerusalém, e folgarei no meu povo; e
nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá
mais nela criança de poucos dias, nem velho que não tenha cumprido os
seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; mas o pecador de cem
anos será amaldiçoado. E eles edificarão casas, e as habitarão; e
plantarão vinhas, e comerão o fruto delas. Não edificarão para que
outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque os dias do
meu povo serão como os dias da árvore, e os meus escolhidos gozarão por
longo tempo das obras das suas mãos: Não trabalharão debalde, nem terão
filhos para calamidade; porque serão a descendência dos benditos do
Senhor, e os seus descendentes estarão com eles. E acontecerá que, antes
de clamarem eles, eu responderei; e estando eles ainda falando, eu os
ouvirei. O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha
como o boi; e pó será a comida da serpente. Não farão mal nem dano algum
em todo o meu santo monte, diz o Senhor.” (Isaías, 65: 17 a 25).
Aí vemos que as promessas de Jeová, do Velho Testamento, não eram nada
após a morte, mas prosperidade aqui na Terra. E a morte continuaria
existindo como sempre.
No profeta Isaías, até já encontramos alguns textos falando de
ressurreição, todavia não falam de uma ressurreição de todos os mortos e
um juízo final como no Cristianismo:
“Os falecidos não tornarão a viver; os mortos não ressuscitarão; por
isso os visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória”
(Isaias, 26: 14). “Os teus mortos viverão, os seus corpos
ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; porque o teu
orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair”
(Isaias, 26: 19). Lendo todo o texto, percebe-se que não estava o
profeta falando de uma ressurreição dos mortos em um dia de juízo final
como se fala no Novo Testamento; tanto que, ao se referir a Israel, fala
que “teus mortos ressuscitarão” e, ao se referir aos inimigos, diz “os
mortos não ressuscitarão”. Se o autor dessas palavras já cria que os
hebreus fossem ressuscitar, achava que os outros povos não teriam
ressurreição. Só posteriormente é que devem ter desenvolvido essa idéia
de que os maus ressuscitam para serem punidos.
Por outro lado, apesar da crença expressa na lei mosaica, nos livros que
seguem ao Pentateuco e na maioria dos profetas, a crença na ressurreição
já aparece bem cristalizada em Daniel.
As profecias de Daniel apresentam coisas muito coincidentes com o
cristianismo, e a promessa de recompensa após a morte e ressurreição. No
último capítulo está escrito que, em sua última visão, disse ter
recebido a mensagem angélica: “...descansarás, e, ao fim dos dias, te
levantarás para receber a tua herança” (Daniel, 12: 13). Há informações
de que os primeiros contatos dos hebreus com a crença na ressurreição
dos mortos se deu sob os domínios babilônico e medo-persa. E o texto
acima parece ter sido escrito nos dias da vitória de Judas Macabeu e
restauração do santuário profanado por Antíoco Epífanes.
“O reino unificado de Judeia e de Israel teve o seu último período de
esplendor com Salomão (século X a.C), após a sua morte foi o mesmo
dividido. No final do século VIII a.C Israel foi conquistada pela
Assíria, sendo muitos dos seus habitantes levados para a Assíria, tendo
aí desaparecido, sendo hoje conhecidos como as dez tribos perdidas de
Israel. O reino da Judeia manteve a sua independência a troco de um
pesado tributo. Cerca de 150 anos mais tarde, os babilónios tomam a sua
capital - Jesusalém -, e arrasam-na (586 a.C), levando consigo grande
número de prisioneiros. No seu cativeiro na Babilónia os judeus
absorveram aí muitos conceitos novos que vieram a incorporar no
judaísmo: Ressurreição dos Mortos, Inferno, Demónios, Apocalipse, etc.
Como dissemos, a partir de meados do séc.VIII a.C. o judaísmo entra num
período de grande produção doutrinária, conhecido pela ‘tempo dos
profetas’. Estes afirmam de forma clara a universalidade e unicidade de
Deus.” (Carlos Fontes, Origem da Filosofia).
Está escrito que o próprio Jesus, para convencer os saduceus de sua
doutrina da ressurreição, não apresentou nenhuma afirmação antiga que
falasse diretamente dela, mas disse: “E, quanto à ressurreição dos
mortos, não lestes o que foi dito por Deus: Eu sou o Deus de Abraão, o
Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, mas de
vivos” (Mateus, 22: 31,32). Por que Jesus não citou Daniel?
Inicialmente, imaginei que o autor do evangelho de Mateus não conhecesse
o capítulo final de Daniel. Mas, após adquirir mais informações, tomei
conhecimento de que os saduceus sempre argumentaram que não poderiam
aceitar essa crença, porque ela não faz parte da lei e das promessas de
Yavé aos patriarcas. Ao que nos parece, eles não têm as profecias de
Daniel na conta de palavras de Yavé. Assim, só mesmo esse argumento
inconsistente poderia ser apresentado.
A grande diferença que os religiosos não vêem entre o Velho e o Novo
Testamento é que, no Velho, Jeová prometia prosperidade aqui na Terra, e
no Novo, Jesus prometeu recompensa após a morte e ressurreição.
Compare-se a Nova Jerusalém de Isaías (Isaías, 65: 17-25) e a Nova
Jerusalém de João (Apocalipse, 21 e 22). Entre outras diferenças, na
primeira, haveria muita prosperidade, mas tudo dentro na normalidade
terrena, com pecado e morte; na segunda, a imortalidade e a inexistência
do pecado. Não percebem que a ressurreição foi introduzida nas cabeças
dos hebreus em época bem posterior ao começo da formação da Bíblia. Aí
está a maior prova de que a ressurreição não procede do deus dos
hebreus, mas do pensamento de outros povos entre os quais eles viveram.
É algo como o deus dos hebreus ter gostado do sistema de recompensa dos
deuses babilônios e persas e adotado a idéia, como um melhor meio de
fazer justiça ao seu tão sofrido povo, inclusive aqueles patriarcas e
profetas que não tiveram em vida essa esperança. Esses dados
reforçam a conclusão de que a ressurreição de Jesus é apenas mais um
mito, o que é corroborado pelo fato de nenhum escritor da sua época ter
tomado conhecimento sequer de que seus seguidores afirmassem que ele
tivesse sido ressuscitado.
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