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YAVÉ, O DEUS REMANESCENTE
O que as análises históricas e arqueológicas informam, e se
percebe pela própria Bíblia, é que os hebreus, como qualquer outro povo
primitivo, adoravam um grande número de deuses. Todavia, certo
dia, os judeus deram exclusividade a um, chamado Yavé, que se tornou o
único deus verdadeiro, passando eles a eliminar quem adorasse outros
deuses. E esse deus veio a ser adotado pelos cristãos, que
dominaram quase todo o mundo, impondo a crença nesse deus que virou o
DEUS único.
Pela leitura dos livros que informam a história de Israel
depois de Josué, nota-se que esse povo não tinha o rito da páscoa, nem
os dez mandamentos. Eles só se tornaram conhecidos na reforma do templo
do rei Josias.
”Não há registro arqueológico ou histórico da existência de Moisés ou dos fatos
descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó
egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C. , por obra
dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para
combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os
rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que
recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais intenções acabaram
batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais evidentes no livro
Deuteronômio. A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras
incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos
reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século
XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir
500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos. Também não
havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez
Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV
e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista.
Já as Dez Pragas seriam o eco de um desastre ecológico ocorrido no Vale do Nilo
quando tribos nômades de semitas estiveram por lá.
Vejamos agora o caso de Abraão, o patriarca dos judeus. Segundo a Bíblia, ele
era um comerciante nômade que, por volta de 1850 a.C., emigrou de Ur, na
Mesopotâmia, para Canaã (na Palestina). Na viagem, ele e seus filhos comerciavam
em caravanas de camelos. Mas não há registros de migrações de Ur em direção a
Canaã que justifiquem o relato bíblico e, naquela época, os camelos ainda não
haviam sido domesticados. Aqui também há erros geográficos: lugares citados
na viagem de Abraão, como Hebron e Bersheba, nem existiam então. Hoje, a
análise filológica dos textos indica que Abraão foi introduzido na Torá entre os
séculos VIII e VII a.C. (mais de 1 000 anos após a suposta viagem).
Então, como surgiu o povo hebreu? Na verdade, hebreus e canaanitas são o mesmo
povo. Por volta de 2000 a.C., os canaanitas viviam em povoados nas terras
férteis dos vales, enquanto os hebreus eram nômades das montanhas. Foi o
declínio das cidades canaanitas, acossadas por invasores no final da Idade do
Bronze (300 a.C. a 1000 a.C.)" [“300” deve-se ler “1.300”], "que permitiu aos
hebreus ocupar os vales. Segundo a Bíblia, os hebreus conquistaram Canaã com a
ajuda dos céus: na entrada de Jericó, o exército hebreu toca suas trombetas e
as muralhas da cidade desabam, por milagre. Mas a ciência diz que Jericó
nem tinha muralhas nessa época. A chegada dos hebreus teria sido um longo e
pacífico processo de infiltração.
DAVID E SALOMÃO
Há pouca dúvida de que David e Salomão existiram. Mas há muita controvérsia
sobre seu verdadeiro papel na história do povo hebreu. A Bíblia diz que a
primeira unificação das tribos hebraicas aconteceu no reinado de Saul. Seu
sucessor, David, organizou o Estado hebraico, eliminando adversários e
preparando o terreno para que seu filho, Salomão, pudesse reinar sobre um vasto
império. O período salomônico (970 a.C. a 930 a.C.) teria sido marcado pela
construção do Templo de Jerusalém e a entronização da Arca da Aliança em seu
altar.
Não há registros históricos ou arqueológicos da existência de Saul, mas a
arqueologia mostra que boa parte dos hebreus ainda vivia em aldeias nas
montanhas no período em que ele teria vivido (por volta de 1000 a.C.) – assim,
Saul seria apenas um entre os muitos líderes tribais hebreus. Quanto a David, há
pelos menos um achado arqueológico importante: em 1993 foi encontrada uma pedra
de basalto datada do século IX a.C. com escritos que mencionam um rei David.
Por outro lado, não há qualquer evidência das conquistas de David narradas na
Bíblia, como sua vitória sobre o gigante Golias. Ao contrário, as cidades
canaanitas mencionadas como destruídas por seus exércitos teriam continuado sua
vida normalmente. Na verdade, David não teria sido o grande líder que a
Bíblia afirma. Seu papel teria sido muito menor. Ele pode ter sido o líder de um
grupo de rebeldes que vivia nas montanhas, chamados apiru (palavra de onde
deriva a palavra hebreu) – uma espécie de guerrilheiro que ameaçava as
cidades do sul da Palestina. Quanto ao império salomônico cantado em verso e
prosa na Torá hebraica, a verdade é que não foram achadas ruínas de arquitetura
monumental em Jerusalém ou qualquer das outras cidades citadas na Bíblia.
O principal indício de que as conquistas de David e o império de Salomão são,
em sua maior parte, invenções é que, no período em que teriam vivido, a
arqueologia prova que a cultura canaanita (que, segundo a Bíblia, teria sido
destruída) continuava viva. A conclusão é que David e Salomão teriam sido
apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente
inexpressivo localizado no sul da Palestina.
Na verdade, o grande momento da história hebraica teria acontecido não no
período salomônico, mas cerca de um século mais tarde. Entre 884 e 873 a.C., foi
fundada Samária, a capital do reino de Israel, no norte da Palestina, sob a
liderança do rei israelita Omri. Enquanto Judá permanecia pobre e esquecida no
sul, os israelitas do norte faziam alianças com os assírios e viviam um período
de grande desenvolvimento econômico. A arqueologia demonstrou que os monumentos
normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos pelos omridas. Ou
seja: o primeiro grande Estado judaico não teve a liderança de Salomão, e sim
dos reis da dinastia omrida.
Enriquecido pelos acordos comerciais com Assíria e Egito, o rei Acab, filho de
Omri, ordena a construção dos palácios de Megido e as muralhas de Hazor, entre
outras obras. Hoje, os restos arqueológicos desses palácios e muralhas são o
principal ponto de discórdia entre os arqueólogos que estudam a Torá. Muitos
ainda os atribuem a Salomão, numa atitude muito mais de fé do que de rigor
científico, já que as datações mais recentes indicam que Salomão nunca ergueu
palácios.
JUDÁ
Entender a história de Judá é fundamental para entender todo o Velho Testamento.
Até o século VIII a.C., Judá era apenas uma reunião de tribos vivendo numa
região desértica do sul da Palestina. Em 722 a.C., porém, os assírios
resolvem conquistar as ricas planícies e cidades de Israel – o reino do norte,
mais desenvolvido economicamente e mais culto. Judá, no sul, que não pareceu
interessar aos assírios, pôde continuar independente, desde que pagasse tributos
ao império assírio.
Assim, enquanto no norte acontece uma desintegração dos hebreus, levados para a
Assíria como escravos, no sul eles continuam unidos em torno do Templo de
Jerusalém. Judá beneficiou-se enormemente da destruição do reino do norte.
Jerusalém cresceu rapidamente e cidades como Lachish, que servia de passagem
antes de chegar a Jerusalém, foram fortificadas. Era o momento de Judá tomar a
frente dos hebreus. Para isso, precisaria de duas coisas: um rei forte e um
arsenal ideológico capaz de convencer as tribos do norte de que Judá fora
escolhida por Deus para unir os hebreus. Além disso, era preciso combater o
politeísmo que voltava a crescer no norte.
Josias foi o candidato a assumir a posição de rei unificador. Durante uma
reforma no Templo de Jerusalém, em seu governo, foi “encontrado” (na verdade,
não há dúvidas de que o livro foi colocado ali de propósito) o livro
Deuteronômio, com todos os ingredientes para um ampla reforma social e
religiosa. O livro possui até profecias que afirmam, por exemplo, que um rei
chamado Josias, da casa de David, seria escolhido por Deus para salvar os
hebreus. Ungido pelo relato do livro, o ardiloso Josias consegue seu objetivo de
centralizar o poder, mas acaba morto em batalha. Judá revolta-se contra os
assírios e o rei da Assíria, Senaqueribe, invade a região, destruindo Lachish e
submetendo Jerusalém. A destruição de Lachish, narrada com riqueza de detalhes
na Bíblia, também aparece num relevo encontrado em Nínive, a antiga capital
assíria. E as escavações comprovaram que a Bíblia e o relevo são fiéis ao
acontecido. Ou seja: nesse caso, a arqueologia provou que a Torá foi fiel aos
fatos” (Superinteressante, julho/2002).
Merece atenção o seguinte texto:
"Então o rei deu ordem a todo o povo dizendo: Celebrai a páscoa ao Senhor
vosso Deus, como está escrito neste livro do pacto. Pois não se celebrara tal
páscoa desde os dias dos juízes que julgaram a Israel, nem em todos os dias dos
reis de Israel, nem tampouco nos dias dos reis de Judá" (II Reis, 23:
21,22).
No segundo livro de
Crônica há referência a Ezequias, pai de Josias, convidando o povo de
Israel para celebrarem a páscoa (II Crônicas, 30: 1), o que conflita com
o texto de II Reis. Se Josias descobriu a páscoa através do livro
encontrado na reforma do templo e disse que ela nunca tinha sido
celebrada nos dias dos reis de Israel, dos juízes, nem dos reis de Judá,
se ele tiver dito a verdade, o autor de Crônica deu informação falsa,
coisa que encontramos com abundância na Bíblia.
Com base incongruências
encontradas na história pregressa desse povo, podemos deduzir que foi a
partir de Josias que começou
toda essa vasta matéria sobre o grande Yavé, que se tornou o único deus,
sendo chamado pelos cristãos atuais simples de de 'DEUS', sem artigo
definido, passando a idéia de que não existem e nunca existiram outros
deuses.
Ver mais sobre O DEUS DO ISRAEL
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